Cultura

Doença autoimune em mulheres: a cultura de agradar todo mundo adoece

Doença autoimune é um diagnóstico que muitas mulheres recebem em silêncio. Elas convivem com a dor, o cansaço crônico, a inflamação invisível, sem entender exatamente por que o próprio corpo começou a atacá-las. Mas e se, por trás dessa resposta física, também houvesse uma sobrecarga emocional construída por anos de exigência, silêncio e o peso de sempre se colocar por último?

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Mais do que uma condição médica, a doença autoimune entre mulheres revela um sintoma coletivo: o impacto silencioso de uma cultura que educa a mulher para agradar, cuidar, ceder e servir, mesmo às custas da própria saúde.

Siga conosco para refletir sobre como esse padrão comportamental e emocional pode estar adoecendo corpos femininos no mundo inteiro.

A epidemia invisível das doenças autoimunes entre mulheres

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, cerca de 80% das pessoas com doenças autoimunes são mulheres. Artrite reumatoide, lúpus, tireoidite de Hashimoto, esclerose múltipla, psoríase, vitiligo, entre outras, afetam milhões de mulheres ao redor do mundo.

A ciência aponta razões biológicas: diferenças hormonais, genéticas e imunológicas. Mas os números, por si só, já são um alerta de que há algo estrutural em jogo.

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Por que o sistema imunológico da mulher, tão eficiente em nos proteger, começa a agir contra o próprio corpo?

O corpo que adoece por excesso de obrigação

As doenças autoimunes não surgem apenas de predisposições genéticas. Elas florescem em terrenos vulneráveis, e, muitas vezes, o solo mais fértil para esse tipo de adoecimento é o emocional.

Mulheres adoecem tentando dar conta de tudo:

  • Da casa
  • Do trabalho
  • Dos filhos
  • Da estética
  • Dos relacionamentos
  • Dos cuidados emocionais de todo mundo ao redor

E fazem isso sem reclamar, com um sorriso no rosto, engolindo o próprio cansaço, a raiva, a frustração, a solidão. Porque foram ensinadas que o amor está em ser útil. Que seu valor está em servir.

Essa cultura do “agradar sempre” é uma violência silenciosa. E o corpo, mais cedo ou mais tarde, responde.

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A doença autoimune como linguagem do corpo

A doença autoimune pode ser entendida como o corpo atacando a si mesmo. E essa metáfora, por mais dura que pareça, é muito próxima da realidade emocional de muitas mulheres:

  • Elas se anulam para manter a harmonia
  • Se silenciam para não parecerem “difíceis”
  • Se cobram por não serem o suficiente, mesmo fazendo tudo
  • Sentem culpa por descansar, dizer “não” ou impor limites

Esse padrão internalizado de autossabotagem, culpa e sobrecarga emocional cria uma espécie de “guerra interna”, exatamente como ocorre, fisiologicamente, nas doenças autoimunes.

Quando agradar vira um padrão de adoecimento

Desde pequenas, meninas são premiadas por serem comportadas, calmas, doces, prestativas. Aos poucos, aprendem que amor vem com aprovação. Que descanso é egoísmo. Sentir raiva é feio. E chorar é fraqueza.

Adultas, se tornam mulheres que:

  • Dizem “sim” quando querem dizer “não”
  • Consolam quando quem precisa de consolo são elas
  • Fazem mil tarefas enquanto ignoram as dores do próprio corpo
  • Culpam-se por não estarem “sempre bem”

A doença autoimune surge, então, como um grito. Um travamento. Um “basta” que não foi dito em palavras, mas que o corpo precisou expressar.

O peso da expectativa social sobre o corpo feminino

As mulheres de hoje são incentivadas a serem tudo ao mesmo tempo: independentes, magras, bem-sucedidas, mães exemplares, parceiras sensuais, filhas cuidadoras, e ainda meditarem, se exercitarem, se alimentarem bem…

Mas sem reclamar. E sorrindo.

Essa expectativa social é insustentável. E muitas vezes, mesmo quando a mulher quer parar, desacelerar, pedir ajuda, ela não sabe como. Porque nunca aprendeu a se priorizar.

E quando o corpo adoece, muitas ainda ouvem:
“Mas você sempre foi tão forte…”
“Será que não é psicológico?”
“Você precisa reagir.”

A dimensão emocional das doenças autoimunes

Estudos em psiconeuroimunologia mostram que emoções reprimidas, traumas não tratados e estresse crônico afetam diretamente o sistema imunológico. A produção excessiva de cortisol (hormônio do estresse) desregula a resposta inflamatória do corpo, e o sistema imune pode entrar em colapso.

Na mulher, isso se agrava por questões hormonais, e também pela forma como ela foi ensinada a lidar com as próprias emoções: reprimindo, escondendo, suportando.

Não é coincidência que muitas mulheres relatam o início dos sintomas autoimunes após:

  • Períodos de luto ou perdas emocionais
  • Fases de sobrecarga com filhos pequenos
  • Relacionamentos abusivos
  • Pressão profissional extrema
  • Situações em que se sentiram “engolidas” por demandas externas

Adoecer não é fraqueza

A doença autoimune não é castigo. Nem fraqueza. Ela é a somatização de uma vida vivida para fora. Para os outros. Sem escuta interna.

É como se o corpo dissesse: “Você me esqueceu. Eu estou aqui. E eu não aguento mais.”

Ao invés de apenas tratar os sintomas físicos, é preciso olhar com profundidade para as causas emocionais e culturais que nos conduziram até ali.

Um novo caminho: autocuidado como revolução

Curar-se, neste contexto, é também desaprender o que nos adoeceu. E isso envolve:

  • Dizer não sem culpa
  • Colocar limites sem medo
  • Descansar sem pedir desculpas
  • Chorar sem se sentir fraca
  • Cuidar de si com a mesma dedicação que cuida dos outros

Essa é a verdadeira revolução do autocuidado: não é só skincare ou spa day. É resgatar o valor de existir por si mesma, e não apenas pela utilidade que tem para o mundo.

O corpo pede o que a alma precisa

A doença autoimune é uma conversa urgente entre corpo e alma. Um pedido de pausa. Um chamado para voltar para si.

Quando entendemos que agradar a todos não é amor, é condicionamento cultural, começamos a nos libertar. E quando nos libertamos, o corpo pode, aos poucos, voltar a confiar. A relaxar. A não precisar mais se defender de nós mesmas.

Que esse texto seja um lembrete gentil: você não precisa se anular para merecer existir. E você pode, sim, começar hoje a se ouvir com mais respeito, afeto e coragem.

👉 Se você se sente sobrecarregada, veja agora: “Cansada de ser forte? Permita-se ser cuidada.”

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