Cultura

Feminismo radical e controle emocional: o que o filme ‘A Virgem Vermelha’ tem a nos ensinar

O filme “A Virgem Vermelha” traz à tona discussões profundas sobre o feminismo radical, o controle emocional e os limites entre ideologia e afeto.

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Baseado na trágica história real de Hildegart Rodríguez e sua mãe, Aurora Rodríguez, o longa espanhol dirigido por Paula Ortiz nos conduz por uma narrativa densa, simbólica e altamente provocadora.

Mais do que um drama histórico, o filme é um alerta. Um espelho que reflete as consequências perigosas do fanatismo, mesmo quando nasce de causas aparentemente justas.

E principalmente, é uma oportunidade para repensarmos o lugar que damos ao feminismo, à maternidade, à liberdade feminina e à capacidade de escutar o outro.

Quem foi Hildegart Rodríguez?

Hildegart nasceu na Espanha em 1914, fruto de um plano cuidadosamente arquitetado por sua mãe, Aurora. Feminista, socialista e eugenista, Aurora acreditava que poderia moldar a “mulher perfeita” para liderar a revolução feminina.

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Escolheu o pai de Hildegart como se escolhe um doador, apenas para gerar a filha ideal, e depois afastou-se completamente dele.

Hildegart foi uma criança prodígio. Aos 3 anos já lia. Aos 10, falava várias línguas. Aos 14, era advogada. Aos 16, se tornava referência em debates sobre sexualidade e liberdade feminina. Tudo sob o controle rígido e meticuloso de sua mãe.

Mas, quando Hildegart começou a demonstrar sinais de autonomia, desejo de viver por si e explorar sua individualidade, Aurora não conseguiu lidar com a perda de controle, e tomou uma drástica atitude.

Essa história, embora extrema, ilustra com crueza o que acontece quando ideologias radicais sufocam o afeto, e quando a mulher deixa de ser vista como sujeito e passa a se tornar um projeto.

O que é feminismo radical?

O feminismo, originalmente, surgiu como um movimento importante que propunha que a opressão das mulheres era uma consequência direta do sistema patriarcal e buscava romper com as estruturas sociais, políticas e culturais que mantinham a desigualdade de gênero.

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No entanto, com o tempo, o termo passou a ser associado a posturas mais extremas, em que toda e qualquer relação com homens era vista como forma de dominação, e onde a crítica às instituições tradicionais se transformou, em alguns casos, em ódio explícito aos homens e rejeição de qualquer convivência com eles.

É nessa distorção que surgiu o feminismo radical, quando se passa a negar o afeto, o diálogo e o equilíbrio, que o filme “A Virgem Vermelha” mergulha de forma dolorosa e simbólica.

Aurora Rodríguez: feminismo ou obsessão?

Aurora, a mãe de Hildegart, é a personagem central do enredo. Ela representa o arquétipo da mulher controladora, visionária e ao mesmo tempo emocionalmente desequilibrada. Seu ideal de feminismo é, em muitos momentos, mais sobre poder do que sobre liberdade, passando do movimento feminista necessário para o feminismo radical.

Ela não quer apenas que a filha seja livre. Ela quer que a filha seja exatamente o que ela imaginou, sem falhas, sem desvios, sem desejos próprios.

Em nome de um futuro feminista utópico, Aurora:

  • Recusa qualquer relação afetiva da filha com homens
  • Despreza manifestações emocionais ou pessoais que desviem da “missão”
  • Elimina qualquer chance de individualidade de Hildegart
  • Torna a filha um objeto, um projeto, um símbolo
  • E quando esse símbolo ameaça se libertar… não vamos dar spoiler – assista o filme!

É aqui que o feminismo radical, no filme, se mostra perigoso. Quando se torna absoluto, inflexível e incapaz de lidar com a complexidade da experiência humana, especialmente a feminina, que é múltipla, fluida e sensível.

A ausência de afeto no discurso ideológico

Um dos aspectos mais perturbadores de “A Virgem Vermelha” é a ausência de carinho entre mãe e filha. O que deveria ser uma relação de amor, apoio e crescimento mútuo, torna-se uma experiência fria, intelectualizada e altamente opressiva.

Aurora projeta em Hildegart suas frustrações, suas esperanças, sua raiva do mundo. Ela não cria uma filha. Ela constrói uma militante. E essa diferença é o que define o destino das duas.

Esse padrão, caracterizado pela negação do afeto em nome de uma ideia, é comum em muitas formas de extremismo, inclusive no feminismo radical.

É o que acontece quando a luta pela liberdade da mulher passa a ser instrumentalizada por discursos que negam a sensibilidade, a escuta e o afeto, elementos profundamente femininos e humanos.

Feminismo que liberta x feminismo que aprisiona

É fundamental diferenciar as várias vertentes do feminismo. O feminismo saudável, aquele que luta por equidade, inclusão, respeito e liberdade de escolha, é essencial. Ele abre caminhos, combate violências e constrói pontes.

Mas o feminismo radical, como o representado por Aurora, pode aprisionar tanto quanto o machismo. Quando nega o homem por princípio, quando vê a maternidade como fraqueza, quando considera que a mulher deve seguir um único modelo de empoderamento, ele se afasta de sua origem libertadora.

Hildegart queria amar. Queria escolher sua carreira, seus afetos, sua história. Mas foi impedida por uma mulher que dizia lutar por liberdade.

Esse é o maior paradoxo do filme: a opressão partindo justamente de quem pregava igualdade.

O perigo de moldar mulheres “ideais”

A história de Hildegart e Aurora é também uma crítica à tentativa de moldar mulheres perfeitas. Um dos maiores problemas do feminismo radical é substituir um modelo opressor por outro modelo opressor, só que com outra estética.

Não basta ensinar meninas a serem fortes. É preciso permitir que sejam livres. Livres para errar. Para amar. Para mudar de ideia. Para serem quem são, mesmo que não se encaixem em ideologias. (Madame Luz)

Hildegart não teve essa chance. Ela foi criada para ser símbolo. Mas no fim, foi uma vítima.

O que podemos aprender com esse filme?

A Virgem Vermelha” nos lembra que ideologias, por mais nobres que sejam em sua origem, precisam de equilíbrio, escuta e humanidade para não se tornarem destrutivas.

A luta pela liberdade da mulher deve incluir:

  • O direito de errar
  • O direito de amar
  • O direito de viver com autenticidade, mesmo fora dos padrões
  • O direito de não ser símbolo de nada, se não quiser
  • O direito de ser filha, mãe, sensível, romântica, ambiciosa, contraditória….. tudo que ela quiser ser!
  • O direito de escolher sua própria história

Esse é o verdadeiro feminismo: aquele que reconhece o valor de todas as formas de ser mulher, inclusive aquelas que não cabem em rótulos ou discursos ideológicos.

O equilíbrio é o caminho

O filme “A Virgem Vermelha” é mais do que um drama histórico. É um espelho emocional e político. Ele nos convida a olhar para dentro, para nossos próprios discursos e escolhas, e perguntar: estou defendendo algo que liberta, ou algo que sufoca?

feminismo radical, quando se torna ideologia cega, perde a sua essência. Em vez de abrir caminhos, fecha portas. Em vez de incluir, exclui. Em vez de escutar, impõe.

E toda vez que isso acontece, a luta deixa de ser pelo amor e pela liberdade e passa a ser apenas sobre controle.

Que sejamos mulheres livres.
Que possamos amar sem medo, pensar com autonomia e mudar sempre que for preciso.
Que nossas ideias sejam firmes, mas nunca duras a ponto de nos impedir de sermos felizes.

Você já tinha ouvido falar sobre o feminismo radical? Compartilhe com as suas amigas e passa adiante esse conhecimento tão precioso!

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